Surpresa!
Amélia, uma simpática senhora viúva na casa de seus sessenta, mora em um lugar tampouco habitado, dividindo espaço com grilos, brisas e mugidos: O vale dos assustados. Onde não se ouve o cantarolar dos galos antes das seis da manhã, repentinamente, escuta-se um barulho na sua laje. Ao confundir o mesmo barulho com algo de seu sonho, volta a dormir com um pouco de custo, já que até o soprar leve das folhas das árvores e o gotejar de sua calha a assusta dos pés à cabeça. Após algum tempo, acontece o acontecido: Mais um barulho vindo da laje. Amélia, então, tem a triste e real sensação de que aquilo não mais pertencia ao seu sonho e que sua noite, talvez, tornar-se-ia um pesadelo. Ela estica com muito cuidado suas mãos para fora do cobertor e em uma tentativa em vão de achar sua lamparina, acaba achando seus óculos redondos, em forma de garrafa e curiosamente, embaçados. Amélia se pega por um instante, totalmente paralisada. Suas mãos esfriam, seu coração bate mais rápido que o de costume e sua garganta recebe um forte nó e pega de supetão, solta um grito de espanto ao olhar para a sua janela aberta. A chuva entrou, molhou todo o seu carpete e provavelmente teria embaçado seus óculos. Mas naquele exato momento, sua preocupação não era com os óculos, mas sim, como a janela foi aberta. Ao achar sua lamparina do outro lado da cama, segue o grande e estreito corredor de sua casa em direção à sala. Com uma visão escura e limitada, o corredor só poderia ser iluminado pela lamparina, já que onde Amélia morava não havia qualquer forma de energia elétrica. Com calafrios, mãos suadas e, totalmente apreensiva, ela vai andando em direção ao fim, passando por enormes quadros de família, porcelanas e velas até que se ouve o barulho novamente. Num susto mais que assustador, Amélia deixa cair sua lamparina e agora, se encontra apenas com os calafrios, mãos suadas e claro, totalmente apreensiva. Com esforço e num ato de desespero, ela vai seguindo o corredor