O Poder De Uma Surpresa
Era mais uma sexta em meio às tantas outras daquele mês. Esperei, pacientemente, ela secar cada fio de cabelo e se vestir para mais um expediente monótono de trabalho. Fingi que dormia como uma pedra, acalmei a respiração ansiosa e forcei as pálpebras com força, pois precisava manter o disfarce e não queria, por nada no mundo, estragar a surpresa com muita antecedência planejada. Assim que ouvi a porta de saída sendo fechada, corri para arrumar a mala dela. Ela ainda não sabia, mas naquela noite, diferente das últimas mil, iríamos dormir no Chile, em Santiago. Confesso que fiquei meio confuso diante do armário transbordante, dos tantos vestidos parecidos e dos incontáveis pares de sapato, mas consegui, com auxílio da memória, lembrar das infinitas combinações que já havia visto ela trajar sorridente e, modestamente, acho que reuni as roupas necessárias. Propositalmente, só levei as calcinhas de pouco tecido, afinal, queria que os próximos dias fossem especiais. Além de roupas, na mala dela coloquei algumas poesias inéditas que havia feito para reinventar sorrisos, balas do tipo que ela teima em acabar ainda no trailer do filme e uma máquina fotográfica analógica, que ela vinha paquerando há tempos. Não parei por ai: junto com os itens de banho, coloquei um óleo de massagem e nele, uma etiqueta dizendo: vale-massagem.
Por volta das quatorze horas, mandei uma mensagem dizendo que naquele dia a buscaria para jantarmos. Ela me perguntou se comemoraríamos algo e eu, em tom falsamente desanimado, apenas disse que conheceríamos o recém inaugurado restaurante de um amigo. O tempo parou naquela tarde. Tentei ler algo, mas não tinha concentração suficiente nem para ler um mísero gibi. Tentei ver TV, mas as únicas imagens que detinham minha atenção eram aquelas que eu mesmo roteirizava, pensando nos momentos que viveríamos ao som do nosso portunhol. Tentei dormir, mas o coração batia muito além do