Sobre o Crime I Nicolò Machiavelli era um homem do povo, comum. A despeito disto teve a ousadia de dar lições de política ao príncipe Lorenzo di Piero de‘Medici. Consciente do despropósito da sua presunção, ele se explica e se desculpa na “Dedicatória“ com que seu livro O Príncipe se inicia. “Da mesma forma como os que pintam cenários se colocam abaixo, na planície, a fim de contemplar as montanhas e os lugares altos, e a fim de contemplar as planícies eles se colocam no alto das montanhas, assim é preciso ser um príncipe para conhecer a natureza do povo, e é necessário ser do povo para se conhecer a natureza dos príncipes.“ Em outras palavras: para se ver bem é preciso estar distante e de fora. Animado pelas palavras de Machiavelli criei coragem para dar a público algumas anotações que fiz sobre um assunto sobre o qual não tenho competência alguma, quer acadêmica, quer prática. Credenciados a falar sobre o que vou escrever, por competência científica e prática, são os advogados e os policiais. Mas, como o exercício de pensar e de comunicar o pensamento é um direito dado a todos os cidadãos, ouso falar sobre o crime, com olhos que olham de longe. Houve um tempo quando o crime não perturbava os meus pensamentos. Hoje ele me ameaça a cada momento. O crime está à espreita. Guiando na marginal de Pinheiros, em São Paulo, vi um outdoor luminoso gigantesco: “Você pode ser o próximo a ser assassinado“. O Toninho guiava o seu carro, como sempre fizera, despreocupado. Não imaginava que o crime estava à sua espera. Se tivesse imaginado teria escolhido um outro caminho. Tenho medo. Nunca sei onde o crime me espera. Vou escrever meus pensamentos sobre o crime porque quero entender. Escrevo maquiavelicamente, olhando de longe. Escrevo na esperança de que outros me ajudem a pensar. Minhas idéias são meros andaimes. Peço perdão pelo meu estilo. Ao me por a pensar sobre assunto tão medonho, o estilo “crônica“ que tanto amo me abandonou. As idéias me vieram como me vinham