Sobre taxistas
Daniel Uchida Zanata
Que tipo de pessoas e histórias os pontos de táxi abrigam? Um ponto em particular, na rua Baronesa de Itu, no coração da saudosa Higienópolis, cultiva uma longa amizade entre 3 taxistas há mais de uma década. José Castilho, o mais velho dos três, no auge dos 40, grisalho, barba por fazer e rugas nos olhos; Márcio Moraes, 35, carioca robusto que não perdeu o sotaque; e Fernando da Silva, 32, alto e com cara de moleque. A primeira reação, ao serem abordados, foi de dúvida:
- Mas afinal, o que há de tão interessante em nós? – indagou o mais velho.
Ora, muita coisa. Não somente sobre eles, mas sobre o que já experimentaram ao longo dessas corridas. Certamente já passaram por situações, digamos assim... inusitadas. Eles pararam por alguns segundos, olhando para o alto, depois observando a face uns dos outros, até que Fernando teve a iniciativa:
- Teve um caso em particular, comigo e o Zé, em que uma senhorinha se recusou a entrar no Corolla dele, e nós simplesmente não conseguimos descobrir o motivo. Ela suava frio, trêmula, e então nós tivemos o trabalho de mudar a nossa ordem no rodízio, tirando o Corolla e o colocando atrás do meu. Teria sido engraçado se durante a corrida eu não tivesse descoberto que o motivo era pelo marido dela ter morrido num acidente de carro, e o automóvel era justamente um Corolla. Quase não tive coragem de cobrar a corrida – contou em voz baixa, erguendo a voz apenas na última frase.
O clima ficou pesado e um pouco melodramático: um leve silêncio e olhares cabisbaixos por parte de todos.
- Vamos falar de paixões, que tal? Ou vocês nunca se apaixonaram por uma cliente?
- Você é louco, japonês! Se minha esposa ler isso aqui eu passo a morar no meu carro – gritou o mais velho.
- É algo apenas interno, da universidade. Não trabalho para o Estadão, veja bem.
Ele riu e ficou pensativo, erguendo a sobrancelha. Parecia que algumas memórias eram-lhe agradáveis, outras