Sob o Signo de Cam Um século e duas décadas nos separam da “abolição” e ainda assim o preconceito racial está impregnado na nossa sociedade, sofrendo o efeito de uma colonização mesquinha que preocupou-se com exaltação de branco, o colonizador, e marginalizou o nosso principal elemento, o índio, e ainda em maior proporção, os negros, que eram tratados de maneira cruel e desumana sob regimes autoritários que mesmo em tempos ditos “modernos” influenciam a maneira de como são enxergados os descendentes africanos que um dos principais elementos que fundiu-se para originar o nosso miscigenado povo. Numa época em que a igreja católica era ainda muito respeitada e que era “sócia” do Estado, uma justificativa bíblica era o meio mais viável para argumentar os “erros” da mesma, justificativa essa encontrada em gênesis. 9,18-27, praga rogada por Noé - Maldita seja Canaã, filho de Cam -. A história registrou várias interpretações preconceituosas deste mito bíblico. E assim firma-se um preconceito “sagrado” que provém de um evento remoto, talvez até irreal, e que transforma irreversivelmente a vida daqueles que possuem cor escura, assim como sugere o termo Cam, que significa trigueiro ou queimado do sol. Argumento esse que alterara a forma como os negros são, até hoje, vistos e tratados, marginalizado pelas diversas interpretações da frase Maldita seja Canaã, filho de Cam. Esse argumento, ainda, nos dias atuais é utilizado por alguns membros de companhias religiosas, ou não, para justificar de forma distorcida o seu preconceito. Alfredo Bosi em seu texto Sob o signo de Cam faz uma análise da poesia condoreira de Castro Alves, Vozes d´África e Navio Negreiro, argumentando a teologia racista que esteve na base do processo de colonização apoiado numa trascrisão bíblico. Essa era a visão dos brancos-colonizadores que, ancorados na maldição de Noé sobre os descendentes de Cam, associam os negros à escravidão, à improdutividade e à inferioridade. Uma