Sisifo desce a montanha
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(release do livro: Sísifo desce a montanha, de Affonso Romano de Sant’Anna. autor do release: Paulo Sabino.)
O mais novo livro de poesias de Affonso Romano de Sant’Anna – e o primeiro depois de Vestígios, pelo qual ganhou o Jabuti, em 2005 – já no título renova o tema, presente em toda sua obra, da construção da morte dentro da vida. Recorrendo ao mito grego de Sísifo, aquele que conseguiu driblar o seu destino e aprisionar a morte, ousadia pela qual foi condenado ao exaustivo e inútil trabalho de rolar uma grande pedra de mármore ao topo de uma montanha, o poeta explicita o desejo de refletir sobre a passagem do tempo e a finitude. A epígrafe de Clarice Lispector expondo a urgência da “deseroização de si mesmo” fala do trabalho estético e existencial deste poeta.
No percorrer das páginas, Affonso Romano de Sant’Anna aponta os seus múltiplos exercícios de relação e diálogo com o tema e com todas as questões que o cercam: as resoluções acerca da cremação já concebida, as dificuldades em lidar com a morte última, com aquela que nos arrasta a todos para todo sempre, as mudanças no olhar do poeta, no seu modo de enxergar as coisas, e uma certa melancolia. Porém, o olhar do poeta, que trespassa a morte, é um olhar que trespassa a vida. O poeta está vivo. Portanto, ainda que a presença da morte como tema seja evidente, o olhar do poeta volta-se e se interessa, sobretudo, pela vida que pulsa em tudo que o rodeia.
A poética de Affonso Romano de Sant’Anna continua afiada e os seus versos evidenciam o mesmo seu olhar atento, olhar arguto, às