Sinais de Modernidade
Isabel Raposo
Este texto pretende responder ao desafio que me foi lançado pelos organizadores do livro sobre a modernidade ignorada: até que ponto o olhar sobre a arquitectura popular ou a extensa periferia auto-construída de Luanda pode contribuir para a reflexão sobre a arquitectura moderna nessa cidade? Será possível dissertar sobre a modernidade através das habitações realizadas sem arquitectos com os recursos disponíveis pelas populações peri-urbanas de menores recursos? Transporá a modernidade o lugar das produções eruditas e de autor? Qual a dimensão social da produção da arquitectura moderna?
Proponho aqui uma breve reflexão a partir do levantamento realizado há uma década no quadro de um projecto de investigação sobre os subúrbios de Luanda e Maputo, actualizada com uma recente visita relâmpago a Luanda. Trata-se pois fundamentalmente de uma revisitação dos textos então produzidos com Cristina Salvador (Raposo e Salvador (2001 e 2007), arquitecta com larga produção em Angola, que coordenou o trabalho de campo sobre a habitação peri-urbana em Luanda. Aqui deixo a minha homenagem à Cristina, recordando o seu olhar atento sobre as configurações espaciais populares e a poética da sua narrativa, de que destaco, o seu Diário do Deserto - Namibe 2009, que recebeu o Prémio Fernando Távora (4ª edição), da Ordem dos Arquitectos Portugueses, com apoio do Centro de Estudos do Deserto, e os recentes artigos publicados no Buala (www.buala.org), com incursões também na arquitectura moderna em Angola (ver “Francisco Castro Rodrigues, o arquitecto do Lobito”).
A arquitectura moderna tropical na “cidade do asfalto”
Os arquitectos reunidos em 1928 no 1º Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM), considerando que a transformação social e económica determina a transformação da arquitectura e que esta deve “exprimir o espírito da época” (Le Corbusier 1957), aplicam a noção de racionalização e