seminario
João Pedro Mendes da Ponte
Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa
Tradicionalmente, ensino e investigação são actividades distintas. O que o
“investigador” descobre ou inventa, o professor, noutro tempo e noutro contexto, ensina aos seus alunos. Esta separação entre investigar e ensinar tem vindo a ser questionada, do mesmo modo que se tem vindo a pôr em causa a existência de uma separação incontornável entre investigar e aprender. Afinal, quem investiga está a procurar aprender e quem aprende pode ter muito interesse em investigar. Deste modo, parece pertinente revisitar os conceitos de investigar, ensinar e aprender e analisar o modo como se podem interligar no processo de ensino-aprendizagem da Matemática e na actividade profissional do professor desta disciplina. É o que procurarei fazer, tendo por base exemplos de actividades e projectos da educação matemática portuguesa.
1. Investigar, ensinar e aprender
Existem muitas perspectivas sobre o que é investigar. Tal como acontece com muitas outras palavras, “investigar” pode assumir múltiplos significados. Na sociedade moderna, constituíram-se poderosas comunidades académicas em muitas áreas do saber, que reivindicam para si um estatuto especial e de algum modo se apropriaram deste termo. Geraram-se então diversos mitos:
Investigar é uma actividade transcendente, que envolve o uso de metodologias sofisticadas, requerendo recursos especiais e uma longa preparação prévia.
Investigar é uma actividade reservada a um grupo especial de pessoas, os “investigadores profissionais”.
Ensinar e investigar são duas actividades contraditórias, que não se conseguem fazer em simultâneo sem comprometer a qualidade de uma ou outra.
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Actas do ProfMat 2003 (CD-ROM, pp. 25-39). Lisboa: APM.
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Existe aquilo que podemos chamar a “grande investigação”, que se realiza nas universidades, empresas e laboratórios do Estado e que tem uma certa função social. No