Saude
As situações de violência contra mulheres são as de agressões interpessoais ou assédios muito frequentes e que podem ser do tipo sexual, físico ou emocional, apresentando-se na grande maioria de modo combinado, superpondo-se os tipos entre si21. O principal agressor é em mais de 80% das vezes o parceiro íntimo ou ex-parceiro, cuja intimidade das relações resulta em episódios repetidos e de gravidade crescente23,24. Não obstante serem as agressões físicas ou emocionais as que mostram as taxas maiores de ocorrência, a marca distintiva das situações entre homens e mulheres é a do tipo sexual, pois as taxas encontradas são muito maiores para mulheres do que para homens25,26.
Outra marca distintiva de gênero é o fato de que, mesmo ocorrendo com tamanha frequência, essas situações não são reveladas facilmente. Ao contrário, a violência de gênero marca-se pela invisibilidade8,22, a mesma que tem acompanhado questões afetivas e íntimas da vida doméstica e privada para as ciências do social, em geral.
A tomada, portanto, desses vividos como questões de conhecimento ou de intervenção social corresponde à tomada das interações afetivas e íntimas pelas ciências e políticas públicas, produzindo novas normatizações do ponto de vista ético e também legal. Se na esfera pública da sociedade existe, desde longo tempo, uma definição de virtudes e legalidades necessárias ao "adequado comportamento", uma pauta similar passa a ser pensada para a esfera privada, atuando nas relações de parcerias conjugais. Determinados atos, historicamente tidos como possíveis, são, hoje, violências. A célebre alegação "ela me faz perder a cabeça", citada por muitos estudos como principal argumento, sobretudo masculino, justificador da violência e com aceitação cultural nas relações afetivo-se- xuais8,9, é hoje objeto de regulação: homens e mulheres devem, doravante, buscar outra forma de lidarem com os conflitos.