rui knopfli
Craveirinha, Rui Knopfli e Sérgio Vieira
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Fátima Mendonça*
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Texto apresentado no Colóquio Internacional sobre as Literaturas Africanas de Língua Portuguesa: “a procura da identidade individual e nacional”, realizado em Lisboa, em 1984. Foi publicado no livro Literatura Moçambicana: a história e as escritas. (Maputo: Faculdade de
Letras/Núcleo Editorial da UEM, 1989.
Universidade Eduardo Mondlane
“Mas de facto prender um poeta na sua pátria ninguém prende. Ninguém prende um cidadão fabricante de vaticínios infalíveis”.
JOSÉ CRAVEIRINHA
Ao trazer a este Colóquio um pouco da nossa reflexão sobre o tema que nos foi proposto, impõe-se-nos, anterior a qualquer acção reflexiva, a voz do poeta que, ao longo de 30 anos, se fez ouvir sem ambiguidade nem temor, numa afirmação de moçambicanidade que despertou e agitou a consciência de muitos moçambicanos ainda hesitantes em o serem.
“Poeta fabricante de vaticínios infalíveis”
“Poeta fabricante de problemas e vaticínios mais tarde ou mais cedo sempre certos”
José Craveirinha vai irromper na nossa literatura escrita com um elemento básico de afirmação nacional, que a recriação poética transforma em apoteose verbal, reinvenção vocabular, em – quase diríamos – orgia da língua e da palavra. Elemento que, apesar de transposto para o universo mágico e encantatório da metáfora e do símbolo, transporta consigo, bem profundamente, a marca da sua própria origem: o mundo dos homens, dessacralizado e real, o mundo dos homens moçambicanos: do mineiro e do estivador, dos que, à força de palmatória, de Norte a Sul, “do Rovuma ao
via atlântica
n. 5 out. 2002
Incomati”, produziam a riqueza das grandes plantações: chá na Zambézia, sizal em Nampula, tabaco em Chimoio, algodão um pouco por toda a terra dominada. Diremos com Craveirinha:
“o poeta de vivências do povo, não está de joelhos, olhos fechados e cabeça baixa, enquanto os problemas acontecem. Ele faz uma