Rui knopfli - naturalidade
NATURALIDADE
Europeu, me dizem.
Eivam-me de literatura e doutrina europeias e europeu me chamam.
Não sei se o que escrevo tem a raíz de algum pensamento europeu.
É provável... Não, é certo, mas africano sou.
Pulsa-me o coração ao ritmo dolente desta luz e deste quebranto.
Trago no sangue uma amplidão de coordenadas geográficas e mar Índico.
Rosas não me dizem nada, caso-me mais à agrura das micaias e ao silêncio longo e roxo das tardes com gritos de aves estranhas.
Chamais-me europeu? Pronto, calo-me.
Mas dentro de mim há savanas de aridez e planuras sem fim com rios langues e sinuosos, uma fita de fumo vertical, um negro e uma viola estalando.
Antes de começar a análise propriamente dita, fica uma pequena apresentação do autor apenas para enquadrar a análise deste poema em concreto, com aquilo que é a obra do autor.
Rui Knopfli nasceu em Inhambane, Moçambique em 1932. Foi poeta, jornalista e crítico literário e de cinema.
No seu primeiro livro “O País dos Outros” (1959) está inserido o poema a que me propus analisar intitulado de “Naturalidade”.
Fundou com João Pedro Grabato Dias os cadernos da poesia Caliban. E desde a sua primeira obra em 1959, lançou vários livros até 1997, ano da sua morte.
Rui Knopfli baseia a sua poesia nas temáticas e motivos seguintes: Procura de identidade; amor-melancolia; erotismos e afetos; consciência da escrita estética; simbologias (homem e natureza);
Passando para a análise do poema e após a sua leitura, assistimos a uma certa angústia, por assim dizer, por parte do sujeito poético, pois apesar de ser visto aos olhos de toda a gente como um europeu, não se considera como tal, uma vez que é africano que ele se sente. “(…) mas africano sou”.
Neste poema, o poeta procura através da contraposição entre elementos constitutivos dos espaços europeu e africano, construir duas perspetivas da sua composição literária, uma positiva, ligada ao continente