professora
Europeu, me dizem.
Eivam-me de literatura e doutrina européias e europeu me chamam.
Não sei se o que escrevo tem raiz a raiz de algum pensamento europeu.
É provável ... Não. É certo, mas africano sou.
Pulsa-me o coração ao ritmo dolente desta luz e deste quebranto.
Trago no sangue uma amplidão de coordenadas geográficas e mar Índico.
Rosas não me dizem nada, caso-me mais à agrura das micaias e ao silêncio longo e roxo das tardes com gritos de aves estranhas.
Chamais-me europeu? Pronto, calo-me.
Mas dentro de mim há savanas de aridez e planuras sem fim com longos rios langues e sinuosos, uma fita de fumo vertical, um negro e uma viola estalando.
Rui Knopfli
"Rui Manuel Correia Knopfli (Inhambane, Moçambique, 10 de agosto de 1932 - Lisboa, 25 de dezembro de 1997) foi um poeta, jornalista e crítico literário e de cinema português" diz-nos a Wikipédia, mas parece que ele não se considerava português, mas moçambicano.
A Infopédia acrescenta, por sua vez: "Poeta moçambicano (...) Desde finais dos anos 50, desenvolveu uma sólida obra poética que não é facilmente incluída nas correntes literárias moçambicanas, assumindo-se antes como continuadora da tradição lírica do Ocidente. Camões, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa ou T. S. Eliot poderiam servir de referência para analisar a poética de Knopfli. Isto apesar de, por ter nascido em plena savana de Moçambique, muita da sua imagética remeter para paragens africanas. A concisão e o cuidado formal de que se revestem os seus poemas refletem um sentir contido e desencantado, perante uma realidade muitas vezes altamente agressiva.Rui Knopfli viveu em Moçambique até aos 43 anos (...)"