graduanda
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa II – Moçambique
Cora de Andrade Ramos
Enquanto em alguns países africanos de colonização portuguesa se formaram as Sociedades Crioulas, que agregavam os sincretismos culturais de mistura das culturas africanas e portuguesas, em Moçambique essas associações não aconteciam, ao contrário, os cidadãos dividiam-se em clubes esportivos específicos para brancos e negros; e os mulatos sofriam a exclusão de ambos os grupos. O sentimento de nação começa a surgir, então, lenta e tardiamente, após o fim da guerra civil. Uma consequência direta dessa falta de unidade nacional é a baixa produção de narrativas que expressassem a identidade cultural desse povo. No entanto, a poesia foi mais expressiva, buscando identidade e espaço naquele território dividido.
José Luis Cabaço delineia essa divisão do povo em dois grandes grupos: “de um lado, uma realidade pré-industrial, fundada na oralidade, limitadamente aculturada (...) do outro, uma sociedade culturalmente industrial, impregnada do simbolismo da escrita e da imagem”. É no segundo contexto que os intelectuais e os autores moçambicanos que começam a escrever a partir da década de 1930 estão inseridos.
Nesse contexto, surge O Brado Africano, jornal que denunciava, pelas mãos desses intelectuais, suas angústias e as injustiças cometidas contra o povo. Destinados ao colonizador, eram escritos em língua portuguesa, tanto para firmarem sua posição social, como para se fazerem compreender. Nele atuaram Rui de Noronha, como chefe de redação; mais tarde José Craveirinha, como redator, Noémia de Souza, que colaborava com textos e, menos engajado, Rui Knopfli.
Ao lado dos textos jornalísticos, surgia o texto poético. José Craveirinha escrevia uma poesia que era, segundo afirmou, “ferramenta de reivindicação, uma ferramenta em que eu me ocultava para me projetar depois”, os poemas tinham