Romance de formação
O romance de formação (Bildungsroman) no Brasil. Modos de apropriação.
A criação do termo Bildungsroman, por meio de uma feliz justaposição, aponta tanto para o estabelecimento do romance como gênero “digno” quanto para o processo de aperfeiçoamento do indivíduo burguês nas circunstâncias peculiares do processo histórico e político da Alemanha dos últimos trinta anos do século dezoito. O termo teria sido empregado pela primeira vez em 1803, pelo professor de filologia clássica Karl Morgenstern, em uma conferência sobre “o espírito e as correlações de uma série de romances filosóficos” (apud Martini, 1961, p. 45).Mais em tarde, em conferência de 1820, o mesmo Morgenstern associará o termo por ele criado ao romance de Goethe Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister (Wilhelm Meisters Lehrjahre, 1795-1796), cunhando assim a fórmula paradigmática de definição do gênero :
[Tal forma de romance ] poderá ser chamada de Bildungsroman, sobretudo devido a seu conteúdo, porque ela representa a formação do protagonista em seu início e trajetória em direção a um grau determinado de perfectibilidade [...]. Como obra de tendência mais geral e mais abrangente da bela formação do homem, sobressai-se [...] Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister, de Goethe,obra duplamente significativa para nós, alemães, pois aqui o poeta nos oferece, no protagonista e nas cenas e paisagens, vida alemã, maneira de pensar alemã, assim como costumes de nossa época. (Morgenstern, 1988, pp. 64/66)
A primeira parte da definição de Morgenstern resulta de seus estudos sobre as relações entre a epopéia antiga e o romance burguês. Para Morgenstern, a epopéia mostra
“o protagonista agindo em direção ao exterior, provocando alterações significativas no mundo; o romance, por sua vez [mostra] os homens e o ambiente agindo sobre o protagonista, esclarecendo a representação de sua