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DA FORMAÇÃO
Marcelo Brandão Mattos
Recebido 04, fev. 2010 / Aprovado 29, abr. 2010
Resumo:
A partir dos conceitos bakhtinianos de análise da forma romanesca, sobretudo quanto ao discurso polifônico, o artigo propõe uma leitura do livro de
Machado de Assis como um romance de formação, que se vale da ironia para refratar a voz ficcional construída (ou formada) em relação a outras vozes que a pudessem questionar ou desconstruir.
Palavras-chave: Dom Casmurro. Ironia. Romance de formação. Dialogismo e Polifonia.
Gragoatá
Gragoata 28.indb 95
Niterói, n. 28, p. 95-109, 1. sem. 2010
3/11/2010 19:48:02
Gragoatá
Marcelo Brandão Mattos
Os livros de Machado de Assis, amplamente discutidos pela teoria literária e apreciados pelos chamados leitores maduros, permitem voos analíticos mais altos do que se pode alcançar com boa parte da produção literária nacional, quiçá com o que se produz e já se produziu mundialmente. A riqueza do trabalho machadiano ultrapassa os limites da valorização estética ou da original elaboração de um bom enredo a ser narrado, para atingir os altos níveis da composição autoral e suas possibilidades orquestrais. A leitura dos romances e contos do mestre da literatura nacional requer um olhar atento tanto ao que “se passa na tela” de suas produções quanto à engrenagem que bobina o “filme principal”, sem falar – obviamente – de seu engenheiro, engenhoso criador.
Nesse sentido, é-nos natural a escolha de um dos romances do autor como rico suporte para a discussão de certos conceitos teóricos, propostos sobretudo por Mikhail Bakhtin, que tratam das configurações romanescas enquanto conscientes escolhas autorais. Propomos, neste trabalho, uma leitura de Dom Casmurro como um romance de formação, no qual está em jogo a composição de um discurso refratado – ou refratário – elaborado segundo o princípio da ironia lukacsiana, que permite a divisão semântica entre o dizer e o querer dizer. Os conceitos teóricos, norteadores do