Ritos de violencia
V
O
Márcia de Paiva
Doutoranda em História Social da Cultura pela PUC-Rio
Crime e Castigo
As civilizadas práticas jurídicas de uma Idade Moderna
Ninguém que se dedique à
historiográfica que se dedicou a rever
meditação sobre a história e
pequenos conflitos e movimentos tidos
a política consegue se
como irracionais e até mesmo patológi-
manter ignorante do enor me
cos, dando-lhes um novo significado.
papel que a violência
Contudo, ainda é muito pouco se pen-
desempenhou sempre nas
sarmos em ter mos de história e de polí-
atividades humanas, e à
tica, como queria Hannah Arendt.
primeira vista é bastante surpreendente que a
Por isso escrever um texto sobre violên-
violência tão raramente tenha
cia não é tarefa das mais fáceis, uma vez
sido objeto de consideração.
que não se trata de um conceito especí-
Hannah Arendt 1
fico, datável, nem se resume a um ou
A
mais fatos. É tema que se presta a múlti-
quem aponte uma série de trabalhos e
se, portanto, de um tema incomensurá-
textos escritos sobre as inúmeras guer-
vel. Apesar de todas as épocas partilha-
ras e revoluções e toda a vertente
rem de algum tipo de violência, seja ela
passagem acima, apesar de ter
plas interpretações e combinações, per-
sido escrita há uns trinta anos,
mitindo sua localização – tempo e espa-
continua atual. Não vai faltar
ço – em qualquer época ou lugar. T rata-
Acervo, Rio de Janeiro, v. 15, nº 1, p. 79-94, jan/jun 2002 - pág.79
A
C
E
regrada ou espontânea, entendemos que,
As inúmeras transformações que ocor-
de certa maneira, existe um limite de
rem a partir de então passam a confor-
aceitação para deter minadas formas que
mar um mundo moder no próximo aos
acabam por caracterizar ou serem carac-
códigos de hoje. As descobertas de no-
terísticas de específicos momentos. A
vas terras, a revolução científica de
aceitação ou