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José Carlos de Paula Carvalho
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O fenômeno (as manifestações) e a instituição (os institutos, as regras canalizando institucionalmente a agressividade através de “confrarias”) do trote fazem ressaltar uma rica problemática quando considerados sob a ótica da
“violência originária” e da “destrudo”, do “imaginário do anômico / a-estrutural”, dos “ritos de iniciação” e suas “transferências míticas” no “liminóide” dos
“rituais de rebelião”/ “rituais de inversão”, todos eles fatores que emergem numa “sociedade urbano-industrial” que, por ter perdido as instituições e o espaldar da “tradição” das sociedades “arcaicas”, instaurando-se o “vazio institucional”, apresenta-se como uma “heterocultura” e um “bricolage”, por onde, nessa atmosfera de “desencantamento de mundo”, irrompem a “Sombra Coletiva” e o pano de fundo mais amplo da “problemática do Mal”.
Alguns pontos merecem ser repensados na dinâmica violência / agressividade / destrudo / iniciação / trote...ecologia mental da angústia e da morte / problemática do Mal / Sombra Coletiva...corporeidade.
1 Eliade mostrou que a iniciação é uma “mutação ontológica de estado / estatuto”, destacando-se sobretudo os “ritos de iniciação da puberdade e da adolescência” ao estado adulto; nas sociedades tradicionais são os ritos de iniciação que regulam a dinâmica sócio-psico-organizacional, aqui no caso das “classes de idades”; mas têm a sustentá-los todo o respaldo de uma
“metafísica sócio-cultural”, que canaliza de modo construtivo a agressividade e a violência, precisamente através daquilo que, dentre outros, Zahan e Erny chamaram de “sociedades ou confrarias iniciáticas” e “pedagogias iniciáticas”. 1
Filósofo e Antropólogo, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Coordendor de Projeto Integrado
Interinstitucional "Violência, imaginário e educação", FEUSP/CNPq.
agosto, 1999
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DEBATES
Se os “ritos de passagem” (Van