Rito de passagem
O filme "Um homem chamado cavalo" - produzido em 1970 com excelente assessoria antropológica, dirigido por Elliot Silverstein e tendo no papel principal Richard Harris - servirá de fio condutor à nossa incursão. O filme conta a história de uma transformação que, curiosamente, começa e acaba no mesmo lugar, na fronteira entre duas civilizações. A civilização ocidental moderna, nele representada por um aristocrata ingles, e a civilização indígena do meio-oeste norte-americano, nele representada pelos Sioux. Porém, no intervalo de sua duração, assistimos a uma transformação decisiva: um lorde inglês entediado tornou-se um homem pleno.
Paradoxalmente porém, nosso principal personagem tornou-se um homem fora de seu próprio mundo. O começo do filme o leva, a ele e a nós, para dentro desse outro e estranho mundo. O final o deixa, a ele e a nós, a caminho do seu próprio mundo (agora talvez não mais simplesmente entediante, mas também estranho e portanto potencialmente interessante). O filme começa e acaba na fronteira, naquele território limite, naquele lugar indefinido onde não se está mais dentro de um mundo e ainda não se está dentro de outro. Tanto no começo quanto no final o personagem está prestes a deixar de ser o que era antes. Se é verdade que entre os Sioux ele tornou-se um homem, o filme nos deixa diante da inquietante pergunta: Permanecerá um homem, se conseguir voltar a seu próprio mundo?
Todo o tempo identidades são postas em cheque, em permanente construção, destruição e