Retorica da imagem
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Em defesa de uma Retórica da Imagem
Ivone Ferreira, Hélder Prior, Manuel Bogalheiro
Universidade da Beira Interior
Não raras vezes, as adaptações de livros célebres para o cinema resultam numa sensação de desapontamento para o espectador que considera o filme uma representação incompleta, uma imagem pobre daquilo que o texto fornecia à sua imaginação. Poder-se-á, portanto, afirmar que o que está em causa é a perda da dimensão imagética da narrativa, transformada imagem, e que no seu estado original, exclusivamente verbal, obrigava ao empenhamento imagético do leitor em invocações e representações de modo a construir as realidades sugeridas no texto. No momento em que a ilustração dessas realidades é fornecida pela imagem, poupa-se o esforço da imaginação do espectador que é confrontado com representações já construídas que constrangem, substantivamente, o seu alcance de representação. A imagem apresentada tende a estabelecer-se como a única possível e a suspender as construções do espectador. É este poder de limitação da imaginação ou poder de substituição da imagem imaginada pela imagem exibida que Duhamel imputa às imagens do cinema: “As imagens em movimento tomaram o lugar dos meus pensamentos”1 porque as imagens nos obrigam, violentando-nos, a pensar o pensamento que a imagem nos oferece e não o nosso. Apesar de, ainda assim, existir necessariamente uma percepção e uma interpretação subjectiva da imagem, esta interpretação em relação à interpretação do texto, o que aumenta em riqueza e vi1
Citado por Walter Benjamin em “A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica”. i
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Ivone Ferreira, Hélder Prior e Manuel Bogalheiro
vacidade de elementos, perde em liberdade heurística e representativa pela parte do observador.
Ora, saindo do campo da ficção, também a argumentação e a sua eficácia se sustentam, consideravelmente, na imaginação e na capacidade de se produzir imagem,