Garapa no um filme fcil de se ver. Isto porque Jos Padilha no poupa o espectador da observao, seca e despida de esteticismos, da misria humana. Aponta sua cmera para trs famlias muito pobres que vivem no interior cearense - com passagens pela capital, Fortaleza - tendo que sobreviver com pouca comida e condies de higiene deplorveis. Com uma fotografia em preto e branco que remete aos documentrios mais radicais dos anos 1960 e 70, e falas gritadas, emburradas, desesperadas, mas tambm esperanosas e bem humoradas em alguns momentos, Garapa um filme bem mais violento que Tropa de Elite (1 ou 2, tanto faz). Violento porque a misria filmada por Padilha agride, porque sua cmera procurar sempre o pior lado, a mais grotesca face do descaso poltico e social deste pas. sempre perigoso quando um cineasta veste a roupa de socilogo para espiar sua culpa burguesa mostrando-nos as condies de vida dos miserveis. Padilha no est livre desse tipo de crtica. Tambm porque, paradoxalmente, sabia que teria a adeso de uma outra parte da crtica, justamente aquela para a qual falar de fome e pobreza obrigao de qualquer cineasta do terceiro mundo. Por esse vis, seu filme finca um p muito forte no oportunismo, algo muito comum em documentaristas.Um outro risco a associao com a oposio poltica. Tal oposio, em 2009, ano em que o filme foi lanado nos cinemas, era praticamente nula. Talvez exatamente por isso ansiasse por alguma voz vinda da arte, para legitim-la. Garapa serviria perfeitamente a esse propsito, pois mostra, inclusive nos letreiros finais, que o programa de bolsa famlia no o suficiente, no chega nem perto disso.Mas nem essa apropriao bsica a oposio ao governo Lula soube fazer. Melhor assim. O documentrio de Padilha forte o suficiente para se sustentar sem a necessidade de servir poltica, qualquer que seja o lado envolvido.Poderia servir, num mundo perfeito, para que o espectador se revoltasse com tanta misria e resolvesse fazer algo a respeito. Protestar com veemncia, cutucar