Resenha: o cálculo dos traficantes
O autor Marcus Carvalho apresenta em seu trabalho algumas referencias contemporâneas da segunda metade do século XVIII sobre a crise da indústria açucareira pernambucana, assim como da crise do algodão e as consequências destes fatos em relação ao sistema escravocrata existente em Pernambuco. Além disso, aponta para a maior adesão do trabalho livre nas lavouras, que se mostravam muito mais vantajosas para os senhores de engenho.
A primeira referencia analisada é a de Henrique Millet, que em 1876 publicou uma série de ensaios onde argumentava que a emancipação do trabalho escravo estava acontecendo de forma gradual em Pernambuco, e menos traumática que no sudeste, por causa paulatina substituição deste tipo de trabalho por trabalhadores livres que, na maioria dos casos, descendiam dos primeiros cativos.
Durante a crise açucareira tornou-se muito mais vantajoso adquirir mão-de-obra livre do que mandar vir de fora os escravos, isso por conta do custo do trabalho destes empregados que era muito baixo. Entretanto, como tenta cuidadosamente explicitar o autor, não é correto afirmar que esta substituição gradual da mão-de-obra escrava pela livre tenha começado em 1850 em Pernambuco. Este processo começou na província, onde a acumulação primitiva teve inicio no século XVI. As terras produtivas da província já possuíam seus donos, e em seus domínios existia uma clientela que trabalhava, mesmo nas propriedades cheias de escravos. Outras formas de trabalho eram empregadas nestes espaços, mesmo antes de 1850; serviços especializados que exigiam que fossem desempenhados por homens livres.
Grande parte desta população vivia nos grandes engenhos, vivendo com suas famílias, sendo os mesmos livres, mas dependentes. Quando o número de pessoas excedia o trabalho sazonal necessário da plantação, eram simplesmente expulsos da terra. Tal era a influencia dos senhores de engenho sobre essa população, que muitos foram expulsos dos engenhos