Resenha do livro: o principe
Dos principados novos que se conquistam com armas próprias e com virtù Nos principados completamente novos, onde há um novo príncipe, existe maior ou menor dificuldade para mantê-lo conforme seja maior ou menor a virtù de quem o conquistou[5]. Exemplos que corroboram o que Nicolau acabou de citar são homens que pela própria virtù e não pela fortuna se tornaram príncipes, exemplos como Moisés, Ciro, Rômulo e Teseu. Tais personagens depois de vencerem perigos e passarem a ser venerados, tendo aniquilado os que tinham inveja de suas qualidades, tornaram-se poderosos, seguros, honrados e felizes. É possível acrescentar à lista o caso de Hierão de Siracusa. Hierão extinguiu a milícia antiga e organizou uma nova, deixou as amizades antigas e contraiu novas, e assim que teve seus próprios amigos e soldados pôde construir, sobre esta base, todo um edifício. Assim, teve muito trabalho para conquistá-lo, mas pouco para conservá-lo[6].
VII
Dos principados novos que se conquistam com as armas e a fortuna de outrem Aqueles que, somente pela fortuna, de cidadãos particulares se tornam príncipes fazem-no com pouco esforço, mas com muito esforço se mantém[7]. Isto aconteceu a muitos na Grécia, em cidades da Jônia e do Helesponto, que foram feitos príncipes por Dario; assim como aqueles imperadores que de simples cidadãos chegaram ao poder mediante a corrupção de soldados. Creio que seja visível nesse ponto da leitura a inclinação de Maquiavel ao esforço inicial. Depreende-se se seus exemplos que os bem-sucedidos são os que lutaram bravamente para conquistar e não para manter suas conquistas. Ele aduz então dois exemplos recentes na época, Francesco Sforza e Cesare Borgia. Francesco, pelos devidos meios e grande virtù, passou de cidadão privado a duque de Milão, e o que havia conquistado com enorme empenho com pouco esforço manteve. Por outro lado Cesare Borgia, vulgarmente chamado duque Valentino, conquistou o Estado com a fortuna do pai e com ela o perdeu[8].