Resenha crítica - O normal e o patológico
Em “O normal e o patológico”, Georges Canguilhem traz uma importante discussão acerca de conceitos como saúde e doença, normal e patológico. Conceitos esses que permeiam a prática dos que se dedicam a área da saúde, e que também deveriam ser transmitidos a toda sociedade, visto que estão presentes no cotidiano e são muitas vezes utilizados de maneira equivocada e/ou inadequada. No livro, o autor retoma historicamente a perspectiva positivista e critica a visão de que o patológico seria apenas uma variação quantitativa do normal. Considera que há infinitas possibilidades fisiológicas e contextuais no processo da vida, e estabelecer uma norma para que se possa afirmar a existência de saúde ou doença apenas transforma estes conceitos em um tipo de ideal. Porém, a rigor, isso implica um ideal vago e que nunca é alcançado, principalmente quando o indivíduo é visto em relação ao seu contexto e às características únicas em sua totalidade.
Para Canguilhem, o que é considerado normal em uma determinada época pode não ser assim considerado em outra, levando-se em consideração que o normal se constrói a partir da sociedade, seus valores e costumes. Assim, o autor substitui o conceito de normalidade, entendido como a adequação a uma norma específica, pelo conceito de normatividade vital, que é a capacidade do ser humano de instituir novas normas de funcionalidade diante de situações adversas, com o intuito de prolongar a vida. O homem normativo é capaz de romper normas e criar novas normas, é capaz de atender às demandas do meio em que está inserido. Deste modo, o meio passa a fazer parte do indivíduo, de sua natureza, e da mesma forma, ao criar normas, o indivíduo modifica o ambiente. É a relação entre o ser vivo e o meio que faz deles normais um para o outro, e é possível perceber na saúde