Resenha crítica: auto da barca do inferno
Auto da Barca do Inferno é um auto onde o barqueiro do inferno e o do céu esperam à margem os condenados e os agraciados. Os que morrem chegam e são acusados pelo Diabo e pelo Anjo, ma apenas o Anjo absolve.
O primeiro a chegar é um Fidalgo, em seguida um agiota, um Parvo (bobo), um sapateiro, um frade, uma cafetina, um judeu, um juiz, um promotor, um enforcado e quatro cavaleiros. Um a um eles aproximam-se do Diabo, carregando o que na vida lhes pesou. Perguntam para onde vai a barca; ao saber que vai para o inferno ficam horrorizados e se dizem merecedores do Céu. Aproximam-se então do Anjo que os condena ao inferno por seus pecados.
O Fidalgo, o Onzeneiro (agiota), o Sapateiro, o Frade (e sua amante), a Alcoviteira Brísida Vaz (cafetina e bruxa), o Judeu, o Corregedor (juiz), o Procurador (promotor) e o enforcado são todos condenados ao inferno por seus pecados, que achavam pouco ou compensados por visitas a Igreja e esmolas. Apenas o Parvo é absolvido pelo Anjo. Os cavaleiros sequer são acusados, pois deram a vida pela Igreja.
O texto do Auto é escrito em versos rimados, fundindo poesia e teatro, fazendo com que o texto, cheio de ironia, trocadilhos, metáforas e ritmo, flua naturalmente.
Denúncias de corrupção na sociedade e na igreja, empobrecimento do povo e corrida desenfreada em busca de riquezas. Trata-se da temática de Gil Vicente no Auto da Barca do Inferno.
Gil Vicente é um artista de grande importância para a literatura portuguesa. Sua obra não está presa ao passado, nem pelas formas, nem pelos temas, pelo contrário, é bastante contemporânea porque utiliza temas universais, mesmo que atrelados a uma realidade do século XVI, mas que diz respeito ao humano.
A pretensão aqui não é abarcar a diversidade de aspectos apresentados pela obra de Gil Vicente, mas mostrar porque este artista que viveu há quatro séculos é tão contemporâneo.
O teatro vicentino, praticamente