Religião
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A teologia feminista e seus giros hermenêuticos
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812684/CA
A hermenêutica feminista comporta um trabalho múltiplo, que requer que se preste atenção: a) aos textos patriarcais, onde o influxo patriarcal chega ao conteúdo das afirmações teológicas [...]; b) à interpretação patriarcal dos textos dada pela tradição eclesiástica; c) à história da transmissão do texto e de suas traduções. Em resumo: um deles distingue um núcleo ou mensagem de libertação, que é preciso separar do revestimento histórico patriarcal do texto e retomar para torna-lo operante na prática atual; o outro percebe nos escritos do Novo Testamento um lento e progressivo processo de patriarcalização das estruturas da comunidade: trata-se, neste caso, de utilizar uma hermenêutica crítica para redescobrir o estrato mais antigo e de tomar contato com a teologia e a prática das primeiras comunidades cristãs para corrigir posteriores distorções na teoria e na prática e para restabelecer um ‘ethos de igualdade’ na
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comunidade.
3.1.
Introdução
Neste Capítulo apresentamos as principais linhas de reflexão da hermenêutica teológica feminista. Orientada principalmente - mas não somente -, para a interpretação da Bíblia, essa hermenêutica é composta de diversos movimentos que se estendem para além da hermenêutica teológica tradicional. Vale advertir que estes movimentos apresentam somente novas perspectivas de interpretação dos textos escritos, sem a pretensão de se constituírem em novo método teológico.
Muito embora a teologia feminista muitas vezes adote métodos já consolidados como o histórico-crítico179, pelo qual o texto sagrado é
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GIBELLINI, R. A outra voz da teologia: esboços e perspectivas de teologia feminista, p. 95.
Não discutiremos nesse trabalho a pertinência do método histórico-crítico. Remetemos, entretanto, aos primeiros biblistas que desenvolveram este método: BULTMANN, Rudolph. Jesus
Cristo e mitologia.