Religião
A partir do livro Os mistérios da fé, de autoria da principal liderança da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo, procuro refletir sobre a noção de fé e sobre as características do discurso do autor. Considero que, a partir do texto de Macedo, é possível falar sobre estratégias discursivas reproduzidas no interior da denominação, assim como caracterizar as investidas proselististas que se realizam a partir delas. Ao examinar a tradução que Macedo faz sobre a noção de fé nessa publicação, destaco o emprego das idéias de "fé natural" e "fé sobrenatural", sublinhando continuidades e descontinuidades entre mundo secularizado e universo religioso dentro da proposta do autor.
No Brasil, nota-se que o declínio do catolicismo se justapõe ao crescimento dos evangélicos e dos "sem religião" (Censo 2000/IBGE). Essas mudanças indicam não exatamente um declínio das religiões, como a tese do "desencantamento" postulava, mas mudanças na experiência do religioso e nas dinâmicas religiosas. O crescimento da Igreja Universal do Reino de Deus é parte desse amplo processo de transformações no cenário religioso. Representante do chamado neopentecostalismo (Mariano 2005), a IURD, fundada oficialmente em 1977, rapidamente se destacou por utilizar-se da mídia de forma ostensiva e ganhar a adesão de mais de dois milhões de fiéis em 20 anos de existência (Jacob et alli 2003). Gerou polêmica por estabelecer práticas rituais nas quais o dinheiro assume um papel central (Kramer 2001) e por buscar inserir-se na esfera pública a partir de uma declarada disputa com a Igreja Católica (cf. Campos 1997; Mafra 2002; Gomes 2004; Birman 2006).
Ao contrário dos protestantes históricos, que valorizavam o uso da escrita para a disseminação de idéias contra o catolicismo2, e diferentemente dos grupos pentecostais que realizaram proselitismo através do contato pessoal e, posteriormente, do rádio, a IURD investiu fortemente em diversos veículos de comunicação para atingir as massas.