Religião
SUMÁRIO
I - Perspectivas.............................................. 01 II- Os Símbolos da ausência........................... 04 III-O Exílio do sagrado.................................... 11 IV-A coisa que nunca mente........................... 16 V-As flores sobre as correntes........................ 21 VI-A voz do desejo.......................................... 27 VII-O Deus dos oprimidos.............................. 32 VIII-A aposta.................................................. 36 IX - Indicações para leitura.......................... 41
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I- PERSPECTIVAS "Aqui estão os sacerdotes; e muito embora sejam meus inimigos.. Meu sangue está ligado ao deles."
F. Nietzsche, Assim falou Zaratustra
Houve tempo em que os descrentes, sem amor a Deus e sem religião, eram raros. Tão raros que eles mesmos se espantavam com sua descrença e a escondiam, como se ela fosse uma peste contagiosa. E de fato o era. Tanto assim que não foram poucos os que acabaram queimados na fogueira, para que sua desgraça não contaminasse os inocentes. Todos eram educados para ver e ouvir as coisas do mundo religioso, e a conversa cotidiana, este tênue fio que sustenta visões de mundo, confirmava — por meio de relatos de milagres, aparições, visões, experiências místicas, divinas e demoníacas — que este é um universo encantado e maravilhoso no qual, por detrás e através de cada coisa e cada evento, se esconde e se revela um poder espiritual. O canto gregoriano, a música de Bach, as telas de Hieronymus Bosch e Pieter Bruegel, a catedral gótica, a Divina Comédia, todas essas obras são expressões de um mundo que vivia a vida temporal sob a luz e as trevas da eternidade. O universo físico se estruturava em tomo do drama da alma humana. E talvez seja esta a marca de todas as religiões, por mais longínquas que estejam umas das outras: o esforço para pensar a realidade toda a partir da exigência de que a