Religião e arte
Inácio no Rio de Janeiro Setecentista:
Modernidade e tradições barrocas
Nancy Regina Mathias Rabelo
Doutoranda Universidade Federal do Rio de Janeiro/CEFET-RJ
Introdução
Neste artigo, comentaremos a obra de talha religiosa de Inácio Ferreira Pinto, mestre entalhador carioca que atuou no Rio de Janeiro na segunda metade do século XVIII, responsável por algumas das melhores decorações dentro do espírito rococó. Este mestre adotou em seus trabalhos alguns elementos arraigados ao repertório barroco, como a coluna torsa, mas cuja aplicação naquele contexto não correspondia mais à estética de influência italiana, e sim à nova moda francesa, conjugada ao arbítrio da clientela local. Suas obras caracterizam-se por elementos plásticos, dentro de um vocabulário abstrato inspirado na ourivesaria, que conferem ao interior coerência e integração com o espaço arquitetônico.
O passado barroco e advento do rococó.
As manifestações artísticas do barroco no Brasil podem ser interpretadas como obras lusitanas na extensão territorial da colônia. Articulada segundo orientações tridentinas, a produção ou vinha diretamente da metrópole, ou realizava-se aqui, usando material local, mas através da atuação direta dos mestres portugueses. A natural distensão dos interesses e do pensamento português exportava a concepção de arte, correspondendo de imediato ao que era produzido na metrópole. Salvo a atividade didática jesuítica junto ao gentio, inculcando a religião e cultura que produziu obras de caráter formal diverso do erudito, nas demais ordens o que se fazia resultava do gosto português na íntegra. No alvorecer do século XVIII, o barroco joanino aportou como encomenda de ordens terceiras e irmandades abastadas, formadas predominantemente por ricos comerciantes brancos, “homens bons”, que importaram a referência de luxo, bom gosto e erudição então vigente em Lisboa, articulado pelo mecenato régio de D. João V.
248 - Atas