Refugiados do sul barreiras do norte
“Estava junto ao posto da alfândega com os meus colegas, para contar as pessoas que iam atravessando a fronteira e avaliar as suas necessidades imediatas», conta William Spindler, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), nessa altura, em 996, em funções no Ruanda. «Estávamos à espera que durante o dia chegassem vinte mil pessoas, tínhamos as mesmas calculadoras que as hospedeiras do ar utilizam nos aviões para verificar o número de passageiros. Mas acabaram por passar diante de nós vinte a trinta mil pessoas… por hora! No total, acolhemos 350 000 pessoas num só dia, o equivalente a duas vezes a cidade de Genebra, pessoas essas que era preciso alimentar e tratar de imediato. Que podíamos nós fazer? Nada, de fato, a não ser constatar, impotentes, os partos e os falecimentos que ocorriam à beira da estrada, e prestar os primeiros socorros às pessoas que se encontravam no nosso campo de visão imediato». Perante deslocações de tamanha dimensão – que felizmente continuam a ser excepcionais – é impossível organizar as ajudas de emergência nas primeiras horas, ou seja, precisamente quando a população se encontra mais exposta ao perigo.
Mesmo assim, o ACNUR, instituição mandatada pela assembleia-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) para responder às crises humanitárias, soube pôr de pé uma logística que lhe permitiu socorrer 500 000 pessoas em menos de 48 horas. Não é algo que se possa improvisar. Quais são então os seus trunfos? Trezentas pessoas que em permanência, nos cinco continentes, se ocupam de logística e de cuidados de saúde, imediatamente mobilizáveis para o terreno. Centenas de milhares de toldos de plástico, tendas, baldes, utensílios de cozinha, cobertores, mosquiteiros, camiões, entrepostos pré-fabricados e geradores eléctricos prontos a ser transportados numa frota de Antonov, aviões de grande volume, a partir dos entrepostos de Dubai, Copenhaga, Amã, Acra ou