Reflita
Cap 1
Assim que os passarinhos começaram a piar do lado de fora, Clarissa despertou
contrariada, espreguiçou-se, esfregou os olhos e olhou pela janela. Mais um
dia de tédio na fazenda São Jerônimo, mais um dia sem nada de novo para fazer. À
exceção de seu irmão Luciano e de sua prima Jerusa, não havia ninguém mais com
quem conversar. A irmã mais velha, Valentina, era uma autoritária intrometida e andava
ocupada demais com o bebê.
Clarissa ouviu batida forte na porta e disse, sem maior interesse:
- Pode entrar.
A porta se abriu e a mãe entrou, cumprimentando-a com um sorriso:
- Bom dia, Clarissa.
- Bom dia, mamãe. Alguma novidade?
- Por que pergunta?
- Para a senhora vir ao meu quarto logo pela manhã, com certeza, algo de novo
aconteceu.
- Você é muito esperta.
- Papai já voltou da capital?
- Ainda não.
- Então, o que é?
Ela olhou para a filha com ar divertido e anunciou:
- Sua encomenda acaba de chegar...
Nem era preciso ouvir o resto. Clarissa saltou da cama e jogou o xale sobre os ombros,
descendo a escada às pressas e correndo para a sala. Logo que entrou, viu
uma caixa grande perto da janela e pôs-se a saltitar de alegria. Completamente
inebriada, começou a desatar nós e a puxar tábuas, tentando abrir a caixa o mais
rápido
que podia. Mas a madeira era dura, e ela não conseguia. Imediatamente, pôs-se a
gritar:
- Luciano! Luciano! Pelo amor de Deus, venha me ajudar!
Ouvindo aqueles gritos, o irmão apareceu esbaforido, seguido da outra irmã, que trazia
no colo um bebezinho de meses.
- Mas o que é que está acontecendo aqui? - o indagou, indignado.
- Veja Luciano! - exclamou Clarissa, apontando para a caixa. - Papai cumpriu a
promessa e me mandou o que lhe pedi! Venha, ajude-me a abrir!
Flora, a mãe, permanecia parada mais atrás, enquanto o filho ajudava Clarissa a abrir
aquela caixa imensa. Estava muito bem atada e amarrada, e