Reflexões sobre o cinema de vanguarda
Uma das características do cinema de vanguarda a partir do ano de 1924 foi a recusa de qualquer forma de roteiro tradicional. Os cineastas desse movimento de origem francesa procuraram eliminar de seus filmes todas as marcas recorrentes do cinema dramático. A narrativa, elemento de origem literária e teatral, eis o grande inimigo para os realizadores de vanguarda, artistas que quiseram traduzir a emoção na arte do movimento puro das imagens, linhas e formas.
O Ballet mécanique (1924), de Fernand Léger, é um dos exemplos mais emblemáticos de filme de vanguarda sem roteiro acadêmico nem ator vedete. O diretor se serviu de objetos do quotidiano como panelas e fragmentos de figuras humanas a tal ponto que as imagens do filme compõem seu próprio sujeito. Não há mais personagem principal ou secundário. Apesar da rejeição aparente de continuidade narrativa, cabe analisar de quais maneiras o cinema de vanguarda dos anos 20 na França encontra novos artifícios para capturar a interioridade dos personagens nas suas relações com o mundo.
Trata-se de ver como Léger consegue emprestar uma personalidade aos objetos e fragmentos humanos para que se tornem elementos significantes.
Em Ballet mécanique, Léger experimenta algo que é impossível na criação pictural, a resistência do espectador à repetição, à fragmentação e à ampliação. O diretor, movido pela vontade de estudar os efeitos do filme sobre o público, desejou surpreender, perturbar, irritar através do cálculo do número de repetições que o espectador pode suportar. Ballet mécanique está provavelmente dentre os filmes mais radicais de desconstrução do cinema. Uma sistematicidade se exerce na obra já nas primeiras imagens, que questionam os componentes do filme (o espaço perspectivo, o próprio efeito de movimento, o enquadramento, a montagem).
Para Léger, o cinema é essencialmente uma arte da imagem; ou ainda uma arte para a qual a imagem é absolutamente tudo. Nos filmes