Reflexão Vilém Flusser
Talvez o que falte na atualidade seja o pensar. As máquinas e suas inúmeras facilidades parecem impossibilitar o desligamento de nossos pilotos automáticos. Não refletimos porque o mundo é mundo, porque a cadeira se chama cadeira. Apenas vivemos, apenas sentamos. Poucos são aqueles capazes de levantar e olhar a mesma cadeira por outro ângulo.
Os manuais nos ensinam a pilotar qualquer geringonça, mas não ensinam a produzir arte, sentimento, experiência. Nos falta experiência para encarar o nosso meio de outra forma. O real já está palpável, concreto e, incrivelmente, real. Precisa-se revolucionar no plano do irreal, construindo novas combinações, aquelas malucas, nunca antes pensadas. Somente com elas se é capaz inovar, progredir de verdade.
O que não pode ser esquecido é que para se combinar dois elementos é preciso conhecê-los. Saber de onde vieram e para onde vão, se eles vão, como vão. Nada disso é em vão, como muitos pensam. Somente a partir de um conhecimento profundo a respeito dos códigos, dos signos e significados que nos rodeiam, seremos capazes de abdicar de padrões e paradigmas para finalmente criarmos.
É para isso que estamos no mundo. Somos seres criadores a partir do pensar. Se esquecemos dessa característica inerente a nós mesmos, esquecemos nossa origem, nosso cerne. Está certo que criar em um mundo em que tudo aparentemente já foi resignificado é um desafio. Mas como qualquer desafio, deve ser encarado como apenas mais um obstáculo. Os códigos são muitos e as interpretações individuais. Refletir em como cada código pode ser lido por determinada pessoa é trabalho para doutorado. Não ache que por encontrar dificuldades, você está sozinho.