Nonada. No meio do re(demo)inho

NONADA. NO MEIO DO REDEMOINHO.
Mestranda Juliana Ramos
UERJ/Letras
ramos.juliana@ymailcom

RESUMO

Guimarães Rosa inaugura "Grande sertão: veredas" com a epígrafe "O Diabo na rua, no meio do redemoinho", revelando instigante temática: a interferência diabólica. O diabo, o demo, encontra-se real e literalmente “no meio do redemoinho”, da palavra “redemoinho”. Sugere-se assim que a linguagem é o nosso “daemon”, que comporta tanto o sentido negativo corrente quanto o sentido positivo de energia e ânimo. O sertão de Guimarães é grande, imenso, infinito — comprovado na primeira palavra do texto, "Nonada", e no símbolo de infinito ao final. Ele comporta tudo que tornou o homem humano, não um ser divino. O homem é selado pela perfeita imperfeição, Deus pela perfeita perfeição e o sertão é regado por imperfeições. O sertão jaz no pecado, é humano. O sertão tem em sua criação a presença do número sete, como no mundo. No entanto, são eles: gula, avareza, inveja, ira, soberba, luxúria e preguiça, insertados nos da criação divina. Tal análise foi possível em virtude da reflexão feita por Vilém Flusser, filósofo tcheco, em "A História do Diabo". Enquanto Deus tenta nos empurrar para o paraíso novamente, o Diabo nos empurra para as tensões. No entanto, para muitos, o paraíso seria um verdadeiro inferno, local de limitações, privações, onde tudo o que foi construído graças à dúvida seria rejeitado, desconstruído, na presença da certeza, que é paralisadora. Portanto, o homem não busca a certeza, mas a dúvida, porque esta é o motor da história — daí a estreita relação entre dúvida e Diabo. No reino da certeza tudo "é", sem passado e sem futuro, sem história, sem narrativa. No reino da dúvida tudo se hipotetiza, há um espírito criador que necessita considerar passado e futuro. Assim, embora se diga que se escreve para superar a dúvida, escreverei para exaltá-la. Eis aqui um elogio à dúvida e à história.

Palavras-chave: Guimarães Rosa. "Grande sertão: veredas". Filosofia.