Reflexão sobre a linguagem e a escrita - a aprendizagem do Português
Mário Quintana
“Ver é pensar. Olhar não é pensar.
Ver é a conjugação perfeita dos cinco sentidos.
O primeiro sentido é olhar.
Cada um dos sentidos é primeiro de cada vez nesta conjugação dos cinco.
Assim mesmo a conjugação é Ver.”
Almada Negreiros
O primeiro aspecto de reflexão que sobressai da afirmação de Mário Quintana advém do facto de o conceito de analfabetismo ser, ele próprio, um termo evolutivo.
O que se define por analfabetismo nos meados do séc. XX, não corresponde em grande medida às definições actuais, preconizadas nas décadas de 70, 80 e 90 por variadíssimos autores, e nas quais se inclui a da própria Unesco, que considera analfabeto; " Uma pessoa incapaz de exercer todas as actividades para as quais a alfabetização é necessária, no interesse do bom funcionamento do seu grupo e da sua comunidade e que lhe permita, também, continuar a ler, escrever e calcular, tendo em vista o seu próprio desenvolvimento e o da sua comunidade."
É no âmago deste conceito, que abarcando todo o universo da actividade intrínseca (leitura), ou no propósito da existência da própria escrita, e subsequentemente da leitura, que reside a verdadeira essência do que é ser, ou não ser, leitor.
Sem grandes preâmbulos nem divagações, podemos dizer que o advento da escrita, permitiu ao ser humano “libertar-se” da escravidão do tempo, e assim projectar a sua cultura para uma dimensão totalmente distinta da do mundo físico.
A escrita é simultaneamente uma manifestação de cultura e cultura em si, metafísica, omnipresente e omnisciente. O legado escrito faz autênticas “viagens no tempo” e transpõe barreiras, criando um espaço “suspenso” no espaço e no tempo para o “saber” da humanidade.
E para o que importa… O que é ler?
Os antigos Egípcios “liam” as migrações das aves. i.e., observavam e interpretavam esses sinais como forma de melhorarem o seu desempenho na