Racionalidade
Uma releitura de Alberto Guerreiro Ramos através dos textos de Mauricio Serva
Prof. Edgard Lopes Passeri *
1. INTRODUÇÃO
Um dos questionamentos mais tradicionais relativos ao estudo da Administração como ciência social aplicada às organizações é aquele que indaga sobre até que ponto a teoria administrativa é tal cientificamente falando. Ela comprovar-se-ia na prática da gestão organizacional ou apenas se configuraria como a intelectualização de uma realidade sem condições reais de inserção e aplicação na vida concreta das organizações? Em dois artigos publicados na Revista de Administração de Empresas – RAE, da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (1993 e 1997), Maurício Serva sugere uma atualização da Teoria Geral da Administração em face do surgimento do fenômeno organizações substantivas[1] que adotam a racionalidade substantiva como paradigma organizacional e gerencial. As propostas da racionalidade substantiva são analisadas à luz dos escritos de Alberto Guerreiro Ramos, um dos poucos cientistas sociais brasileiros que, por suas reflexões e atitudes quase tão isoladas quanto inéditas, se não pioneiras pelo menos singulares, foi capaz de provocar, no Brasil, um repensar da Administração. Seus escritos são de tal robustez científica que sua leitura direta só é possível a quem domina o cenário das ciências sociais e, assim, é capaz de fazer deles uma correta exegese. Por isso, o presente estudo se vale da intermediação de autores estudiosos do pensamento de Guerreiro Ramos. Essa investigação é estimulante, porque, ao se estudar a gestão organizacional no Brasil, observa-se o uso e abuso da intuição que caracteriza o empresário brasileiro, o que determina forte tendência à adoção de práticas de administração fundadas apenas no senso comum. Na maioria das vezes, empresta-se-lhes uma roupagem de pragmatismo cujos ingredientes, na sua essência, consubstanciam a racionalidade