Questões de tradução em jorge luis borges e italo calvino
Maria Elisa Rodrigues Moreira
Aprender a falar é aprender a traduzir [...]. Octavio Paz
A tradução tem sido tema de reflexão por parte de inúmeros estudiosos, que discutem suas possibilidades e limites, suas consequências e desdobramentos nos campos literário e poético. Mas não é somente aos pesquisadores e teóricos que a questão afeta, sendo que diversos escritores, para os quais a tradução é parte integrante de seu processo de trabalho – seja por atuarem também como tradutores, seja por terem traduzidas muitas de suas próprias obras para outros idiomas e suportes – também refletiram e escreveram sobre ela. Octavio Paz, ao pensar a tradução, a aponta como uma função especializada da literatura, uma vez que considera qualquer tradução como uma operação literária, uma vez que implica necessariamente transformação do original, ainda que o original reverbere sistematicamente no texto traduzido:
O texto original jamais reaparece (seria impossível) na outra língua; entretanto, está sempre presente, porque a tradução, sem dizê-lo, o menciona constantemente ou o converte em um objeto verbal que, mesmo distinto, o reproduz [...].*
Corroborando a posição de Paz acerca da imbricação entre o processo tradutório e o literário procuraremos, ao longo desse texto, identificar as posições de Jorge Luis Borges e Italo Calvino sobre a temática da tradução poética, assim como tecer considerações sobre possíveis desdobramentos e contribuições dessas reflexões para as teorias da tradução, e para a crítica literária de maneira geral. A questão da tradução aparece em vários momentos da obra de Jorge Luis Borges, tanto em seus ensaios, resenhas, prólogos e entrevistas quanto em seus contos, embora de maneira assistemática. Com Italo Calvino observamos movimento semelhante, ainda que a reflexão sobre a tradução em sua obra seja menos frequente e suas concepções, por vezes, sejam bastante diversas das de Borges. Para ambos,