Quais as razões para uma Republica cordial e patrimonial
Bento Rupia Júnior
A forma é sempre ausência de liberdade, mesmo quando é desejada. Por isso, em nenhuma forma de Estado, mesmo na aparentemente mais livre, a noção filosófica ou mesmo política de liberdade pode ser transposta para a realidade. Em si, pois, a República é tão pouco sinónima de liberdade como a monarquia - mesmo absoluta - é sinónimo de falta de liberdade. A diferença entre as formas de Estado reside sempre no ritual, e o ritual é sempre determinado, em última análise, pela personalidade daquele que está no cimo (quer seja imperador ou presidente. Como dizia Saramago em Lancelot, “Nós não podemos continuar a falar de democracia no plano puramente formal. Isto é, que existam eleições, um parlamento, leis, etc. Pode haver um funcionamento democrático das instituições de um país, mas eu falo de um problema muito mais importante, que é o problema do poder. E o poder, mesmo que seja uma trivialidade dizê-lo, não está nas instituições que elegemos. O poder está noutro lugar”. No caso do nosso país nas mãos de um só sujeito! O que explica a tendência para de forma cúmplice se aceite que o nosso Estado, de forma inexplicável e ilegal, aceite a homologação de poderes formais e informais, em forma de absolutista e sem distinção entre o público e o privado? De forma evidente o Estado vai-se tornando património de um dado governante.
A tolerância desse abuso de poder vem ganhando proporções que levam a equacionar tamanha cordialidade para um princípio e formas bárbaras.
Este mesmo Estado teria extralegalmente tolerado que o chamado "coronel" embarcasse dentro da "canoa" do Estado moderno; em troca da "força moral" (dos votos) dos coroneís-fazendeiros, o Estado brasileiro continuou, embora ilegalmente, homologando os poderes formais "perdendo os anéis para conservar os dedos", embarcaram quase incólumes na "canoa sem remo"
O legado do poder privado, mesmo hoje, ainda sobrevive dentro da