Psicologia social do trabalho e cotidiano: a vivência de trabalhadores em diferentes contextos micropolíticos
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
(Brasil)
O artigo pretende ilustrar a perspectiva de uma PSICOLOGIA social que se dedica aos estudos do trabalho a partir do cotidiano, âmbito privilegiado dos processos micropolíticos. Após situar a psicologia social do trabalho, examina três exemplos de pesquisa em diferentes contextos (empresas toyotistas, feira livre e cooperativas), nos quais se evidenciam distintos modos de vivenciar o trabalho, de agir e de produzir sentidos. São apontadas as contradições do discurso da flexibilidade e as formas de resistência dos trabalhadores nas empresas toyotistas, descrevem-se os processos organizativos da feira livre, que ocorrem na tensão entre cooperação e competição, e comparam-se as vivências como cooperados pautadas pelas relações cotidianas de trabalho estabelecidas em cooperativas distintas.
Palavras-chave: PSICOLOGIA social do trabalho, Cotidiano, Toyotismo, Feira livre, Cooperativismo.
1. A PSICOLOGIA social do trabalho
De acordo com Sato (2003), consolidaram-se no Brasil dois grandes campos teórico-práticos no interior da PSICOLOGIA, campos que constroem de modos distintos o trabalho humano como objeto. O primeiro “abraça problemas e interesses postos pelo corpo gerencial e pelo capital, articulando-se, por exemplo, com a administração e com a engenharia” (p. 168). O segundo vale-se da leitura da psicologia social – que se articula com as ciências sociais e visa a compreender o trabalho a partir do olhar de quem o vivencia, o trabalhador.
Diferenças de leitura também foram evidenciadas por Spink (1996), que aponta duas tradições de compreensão do que é uma organização. De um lado, uma tradição instrumental, de inspiração gerencial, que compreende a organização como uma estrutura que se apresenta ao psicólogo como fonte de problemas de gestão a serem resolvidos. De outro, a