Psicanálise, educação e autismo
Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., III, 1, 11-20
Psicanálise, educação e autismo: encontro de três impossíveis*
Lazslo A. Ávila
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Este artigo visa articular uma proposta para o trabalho clínico e pedagógico com sujeitos autistas. Parte da discussão dos três impossíveis apontados por Freud, ao qual se acrescenta a dimensão da ação frente ao autismo.
Caracteriza os conceitos psicanalíticos que são instrumentais para essa clínica e os referenciais construtivistas que embasam as ações pedagógicas. Descreve o trabalho desenvolvido pela equipe multidisciplinar da Escola
Municipal do Autista de São José do Rio Preto, SP, e conclui com considerações acerca do sentido envolvido em trabalhos dessa natureza.
Palavras-chave: Psicanálise, educação, autismo, instituição
*
Apresentado no Congresso Internacional sobre Austimo e Psicoses Infantis, realizado em São Paulo, de 8 a 10 de agosto de 1997.
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LATINOAMERICANA
DE
PSICOPATOLOGIA
FUNDAMENTAL
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Freud, em “O mal-estar na civilização”, anunciou as três profissões impossíveis: educar, governar e psicanalisar.
Acrescentaríamos, por nossa conta e risco, o lidar com autistas como o quarto trabalho impossível.
Na intersecção dos impossíveis talvez seja possível ver desenhar-se, com contorno impreciso, uma prática clínicopedagógica voltada para sujeitos humanos marcados pela distância e pelo não-assujeitamento à cultura.
O autismo representa um tríplice desafio: para a psicanálise, para a educação e para as práticas sociais. Do ponto de vista da psicanálise uma série de questões se levanta quanto à própria definição do autismo, que não se enquadra como estrutura clínica neurótica ou psicótica, apresentando uma especificidade que diferentes gerações de psicanalistas (Kanner, Mahler,
Bettelheim, Tustin, Meltzer, Alvarez, Jerusalinsky, Laznik-Penot,
Lefort etc.) vêm tentando, com diferentes abordagens, caracterizar. O tratamento