professora
(Raduan Nassar ) E a palavra se torna imagem (Claudinei Vieira)
Lavoura Arcaica", o livro de Raduan Nassar e o filme de Luiz Fernando Carvalho, é um dos mais belos exemplos da miscigenação possível entre o cinema e a literatura. Um dos clássicos da moderna literatura brasileira tornou-se um dos filmes mais importantes da nossa cinematografia. Vamos tentar compreender como funcionou essa experiência.
Trata-se aqui da relação da palavra com a imagem para realizar este produto simbiótico que é o cinema, da adaptação da obra de Nassar, caudalosamente verborrágica, sufocantemente intimista, quase absolutamente não-linear.
A história não interessa tanto; os fatos são como que arrancados a cada nova torrente de palavras do personagem-narrador André, as lembranças vêm como flashbacks absolutizantes (que se fecham em si mesmos) até que, aos trancos e barrancos, ficamos sabendo que possuem como referência a relação incestuosa de André com a irmã.
Tudo gira em torno disso: o arrependimento, a desestruturação da família, as memórias amargas (mesmo quando felizes, as memórias só reforçam o quanto essa sua antiga felicidade será destruída), a fuga de casa, o resgate pelo irmão.
As referências bíblicas são óbvias, não somente pela adaptação de uma parábola cristã, mas principalmente pela utilização da Palavra com todo o seu poder de Verdade.
A Palavra é encarada assim pelo patriarca que se senta à mesa e obriga a família a ouvir seus sermões. Também é vista dessa forma pela família que ouve e condiciona sua vida àquelas histórias. E é também assim combatida pelo filho rebelde que se desespera ao perceber que essa "verdade" não explica seus desejos inconfessáveis nem os conforta ou perdoa quando estes afinal são realizados.
Pois bem, o diretor Luiz Fernando Carvalho transpõe para o filme quase que o texto inteiro do livro, literalmente. As cenas são longas, as "conversas" são