Professor
Da Espereza.
(ROSA, João Guimarães. Tutameia – Terceiras estórias. 8 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.)
Retrato de cavalo
João Guimarães Rosa
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Sete-e-setenta vezes milmente tinha ele de roer nisso, às macambúzias. De tirar a chapa, sem aviso nem permisso, o lô Wi abusara, por arrogo e nenhum direito, agravando-o, pregara-lhe logro. Igual a um furto! — ao dono da faca é que pertence a bainha ... — cogitava, com a cabeça suando vinagres. Seu, cujudo, legítimo, era o ginete, de toda a estima; mas que, reproduzido destarte, fornecia visão vã, virava o trem alheio, difugido. Descocava-o estampada junto, abraçando-lhe o crinudo pescoço, a moça, desinquieta, que namorava o lô Wi, tratava-o de Williãozinho. Encismava-se: feito alguma coisa houvessem tomado ao animal, subtraindo-lhe uma virtude; o que trazia dano, pior que mau-olhado. O retrato. Ele não podia impedir que aquilo já tivesse acontecido. Saía agora à porteira, a vigiar o extraordinário formoso — alvo no meio dos verdes que pastando — mesmo quando assim, declinado entortado. Vistoso mais que no retrato, ou menos, ou tanto? Era muito um cavalo. Dele. O que lhe influía a única vaidade. Deu pontapé num esteio, depois meditou sobre seus sapatos velhos. Ele, o Bio. Ia outra vez ver lô Williãozinho — e o quadro. Ia a pé; para giro vulgar ou de mister, não o selava: o seu corcel, sem haver nome. Referiam-no todos ao nulo e transato o primeiro dono consistindo de ser um falecido Nhô da Moura, instruidor. — "O cavalo branco do Nhô da Moura ... " — por lerdo, injusto costume, ainda pronunciavam. Nhô da Moura certo inventara e executara de o fazer à mão, refinado e afalado, governava-o com estalos do olhar, quem-sabe só por afetos do pensamento. Outro o montasse, e era o Nhô da Moura assoviar dum jeito sortilégio - e truque que ele a dar às upas e popas, depondo o cavaleiro