PRECONCEITO LINGÜÍSTICO
Capítulo I
“A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente”
O primeiro mito apontado por Marcos Bagno é introduzido pelo título: “A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente”, o que o autor classifica como “o maior e mais sério dos mitos” e como “(pre) conceito irreal”.
Bagno argumenta que este mito é prejudicial à educação porque retira a variabilidade linguística do que é ensinado nas escolas e passa a idéia da existência de uma única língua comum a todos os brasileiros, não se levando em consideração os múltiplos fatores inerentes a cada grupo da população.
Ainda, segundo o autor, o alto grau de variabilidade e diversidade lingüística no Brasil tem como uma de suas causas a injustiça social, geradora de um abismo lingüístico entre a norma padrão e não-padrão (presente na maioria dos brasileiros). Assim, se este mito for tido como verdade, haveria, como os sem-terra, os sem-língua, a grande maioria dos brasileiros que não tem acesso à “norma culta da língua, aquela norma literária, culta, empregada pelos escritores e jornalistas, pelas instituições oficiais, pelos órgãos do poder.”
As próprias mensagens enviadas pelo governo são dirigidas à massa em norma culta, o que dificulta sua compreensão pouco habilitada ao reconhecimento das formas de prestígio da língua, excluindo-os, inclusive do acesso das “benesses” públicas. E isto fica evidenciado, também, na própria Constituição que, apesar de igualar todos perante a lei, não os iguá-la quanto à sua legibilidade, constituindo essa mais uma pista da necessidade não de a Constituição ser escrita em língua não-padrão, mas a de que todos os brasileiros tenham o mesmo acesso à norma culta que têm as classes privilegiadas economicamente.
Apesar de a grande parcela dos brasileiros falar o português, não se pode dizer que haja uma “homogeneidade lingüística”, pois há uma imensa diversidade lingüística presente na língua. A escola