Preconceito linguístico
“Um dos expoentes dos talibãs da linguística no Brasil é um certo Marcos Bagno (...)”. Foi assim que a revista Veja se referiu aos professores brasileiros que defendem o fim do preconceito linguístico. Na reportagem nada imparcial intitulada “Os Adversários do Bom Português”, a revista detona o uso do livro “Por uma vida melhor”, adotado nas aulas de português do ensino fundamental e que classifica expressões como “os livro” e “nós vai” não como erradas, mas como pertencentes a uma variedade da língua.
Em uma das entrevistas que só interessavam à opinião da revista, um historiador diz que “o discurso dominante nessas instituições valoriza a ignorância”. Não seria, porém, ignorância esquecer que convivemos em lugares, situações e condições diferentes uns dos outros e que a língua não é homogênea ou estática? “Poderíamos dizer, com alguma simplificação, que a função central da linguagem é comunicar”, diz José Luiz Fiorin, em seu texto que defende a variedade linguística. Ele vai além: “Saber uma língua é conhecer suas variedades. Um bom falante é ‘poliglota’ em sua própria língua”.
Não se trata de valorizar um ou outro modo de falar, ou “menosprezar a norma culta”, como diz a reportagem da Veja, mas de saber usar a língua em diversas situações. E, claro, não discriminar quem não fala de acordo com a norma padrão, seja por qual motivo for. Se a função principal de uma língua é comunicar, dizer “eles querem” ou “eles quer” vai transmitir a mesma mensagem, apesar de uma ser preferível a uma situação do que a outra. Do mesmo modo que uma variante coloquial pode ser inadequada