Porque rir da filosofia politica
Há um tempo atrás — não muito remoto —, em uma avaliação de um conceituado programa de pós-graduação em Ciência Política do Brasil, que resultou em um parecer elogioso (tudo acabou tendo um final feliz), o(a) avaliador(a) deixou escapar o seguinte comentário: trata-se de um bom programa de Ciência Política; o que há a registrar é uma preocupante presença excessiva de temas de Filosofia Política. Pano rápido.
O que pretendo aqui fazer é devolver ao riso colérico dos que riem da Filosofia Política um outro tipo de riso, que incide sobre a vetusta postulação de uma distinção funda e de, no limite, uma incomunicabilidade entre uma reflexão de corte filosófico e normativo e o trabalho, a meu juízo fundamental, que se realiza na dimensão empírica da disciplina. Se minha exposição for minimamente bem-sucedida, pretendo deixar claro que todos perdemos com essa distinção. Ela é obscura, obscurantista e não faz justiça a essas duas áreas de trabalho, que são fundamentais para a constituição da nossa disciplina. Uma dá sentido à outra. Uma não pode existir sem a outra.
Eu gostaria de começar a construir esse argumento mencionando um episódio intelectual muito antigo. E aqui vai uma rápida digressão