Porque rir da filosofia politica

4327 palavras 18 páginas
Por que rir da Filosofia Política?, ou a Ciência Política como techné Renato Lessa Eu tenho, agora, a satisfação de passar a palavra para mim mesmo. Mais do que isso, eu gostaria, na verdade, e de uma forma um pouco bizarra, de agradecer a mim mesmo por ter me convidado para esta mesa, em função do que ouvi dos três colegas que me precederam. Há, com certeza, muito o que acrescentar ao que por eles foi dito. O problema é que eu talvez não tenha meios de fazê-lo. E já que meus limites são implacáveis comigo, quero começar adotando um outro ângulo de ataque que, creio, converge para nossa conversa aqui nesta manhã. Começar com uma pequena e paroquial estória; curta, mas que nos ajuda a esclarecer o sentido intelectual e político do que pretendo apresentar aqui hoje.
Há um tempo atrás — não muito remoto —, em uma avaliação de um conceituado programa de pós-graduação em Ciência Política do Brasil, que resultou em um parecer elogioso (tudo acabou tendo um final feliz), o(a) avaliador(a) deixou escapar o seguinte comentário: trata-se de um bom programa de Ciência Política; o que há a registrar é uma preocupante presença excessiva de temas de Filosofia Política. Pano rápido.
O que pretendo aqui fazer é devolver ao riso colérico dos que riem da Filosofia Política um outro tipo de riso, que incide sobre a vetusta postulação de uma distinção funda e de, no limite, uma incomunicabilidade entre uma reflexão de corte filosófico e normativo e o trabalho, a meu juízo fundamental, que se realiza na dimensão empírica da disciplina. Se minha exposição for minimamente bem-sucedida, pretendo deixar claro que todos perdemos com essa distinção. Ela é obscura, obscurantista e não faz justiça a essas duas áreas de trabalho, que são fundamentais para a constituição da nossa disciplina. Uma dá sentido à outra. Uma não pode existir sem a outra.
Eu gostaria de começar a construir esse argumento mencionando um episódio intelectual muito antigo. E aqui vai uma rápida digressão

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