Por que as contas não fecham
Por que as contas não fecham
Entenda os mistérios contábeis das empresas da Nova Economia
Por Mikhail Lopes – Revista Exame – 17/04/2000
No inicio de 1972, a Metal Leve abriu o capital na Bolsa de Valores de São Paulo. Considerando o valor de patrimônio da empresa, constante de seu balaço, cada ação teve o preço fixado em 2,65 cruzeiros. Após a abertura do capital, o valor das ações se multiplicou chegando a 15 cruzeiros. O caso mostra como uma empresa não vale pelo patrimônio que está registrado em seu balanço. E sim, pelo que o mercado acredita que ela pode gerar de lucro no futuro.
Os guarda-livros da época da Revolução industrial já conheciam casos como o da Metal Leve, de discrepância entre o que uma empresa vale (quanto o mercado está disposto a pagar por ela) e o que está registrado no balanço. A função do balanço não é propriamente dizer quanto à empresa vale, mas saber se ela está dando lucro ou não.
A discrepância entre o valor acionário da empresa e o valor de seus ativos se tornaria muito maior nas empresas da Nova Economia. Considere o caso da Cisco, empresa de equipamentos de telecomunicação. A empresa tem ativos em 14,7 bilhões de dólares, mas o mercado acionário avalia em mais de 470 bilhões, 32 vezes o valor declarado. A discrepância maior nas empresas da Nova Economia ocorre por um motivo simples: os ativos mais importantes delas são marcas, clientes ou as tecnologias que desenvolvem. Eles são ativos conhecidos como intangíveis. Tradicionalmente eles não podem ser contabilizados como ativos, mas têm grande valor de mercado. Eis o problema: como registrar no balaço aquilo que o mercado mais valoriza?
“Os ativos intangíveis só passam a existir contabilmente quando a empresa vende ou compra a marca ou o software. Ou seja, quando entra ou sai dinheiro do caixa. Porque os balaços são baseados no fluxo de caixa”, diz Sidney Ito, sócio da empresa de auditoria KPMG. “Isso tende a aumentar ainda mais a diferença entre o que