Política Social e Psicologia: Uma trajetória de 25 anos
A Psicologia, profissão e formação profissional se desenvolve no Brasil num contexto histórico de suspensão dos direitos fundamentais, incluídas as liberdades de organização e de expressão. Sem buscar linearidades entre esse cenário e o perfil profissional que se desenha nos primeiros 20 anos, mas assumindo o pressuposto de que as condições históricas fornecem o contexto cuja consideração é indispensável para o estudo de qualquer fenômeno social, verificamos que a realidade da profissão- marcada pelo elitismo e pela escassa consideração das demandas sociais- não era nada estimulante (e.g., Botomé, 1979; Mello, 1975). Política é conflito, afirma Abranches (1985), e, como tal, política social, parte do processo de alocação e distribuição de valores, é campo de oposição e contradição de interesses. Santos (1987) propõe considerar política social como aquela que ordena escolhas trágicas segundo um determinado princípio de justiça, consciente e coerente. A questão social pode ser assim definida como o conjunto dos problemas políticos, sociais e econômicos postos pela emergência da classe operária no processo de constituição da sociedade capitalista; em suma, a manifestação no cotidiano da vida social da contradição capital-trabalho. A responsabilidade pelas seqüelas da “questão social”, no projeto neoliberal, passa do Estado para uma “parceria” com dois outros “setores”, o mercado (privatização) e a sociedade civil (ação solidária, filantrópica, voluntária). Dentro dos aspectos em que a Psicologia se inseriu foram na Saúde Pública e na Assistência Social. Ao fazer um retrospecto da estruturação da Psicologia no campo da saúde pública, é necessário analisar não apenas a forma como suas práticas vêm se organizando ao longo das décadas, mas também é preciso considerar o contexto de emergência e consolidação dessas práticas, especialmente no que se refere à sua institucionalização na