Plínio
XX sobre os dilemas da formação econômica. Concorde-se ou não com sua tese, é impossível entender o Brasil moderno sem dialogar com suas criativas interpretações teóricas e históricas. Preocupado em compreender as bases materiais da sociedade nacional, Furtado procurou estabelecer critérios racionais para a incorporação de progresso técnico. Não lhe escapou que o estilo de desenvolvimento das forças produtivas e de modernização dos padrões de consumo é correia de transmissão de valores socioculturais predeterminados. Em seu livro “Cultura e Desenvolvimento”, ele explicita o caráter ideológico das tecnologias: “A denúncia do falso neutralismo das técnicas permitiu que se restituísse visibilidade a essa dimensão oculta do desenvolvimento que é a criação de valores substantivos”. Dada a ausência de critérios éticos na lógica da valorização do capital, Furtado insiste na importância crucial do poder político na definição de parâmetros institucionais que, ao cristalizar uma determinada situação de mercado, delimitam o campo de atuação da concorrência. Donde o papel decisivo do Estado nacional como instrumento de civilização do desenvolvimento capitalista. “Um sistema econômico” - afirma em “Transformações e Crise na Economia Mundial” - “é essencialmente um conjunto de dispositivos de regulação, voltados para o aumento da eficácia no uso de recursos escassos. Ele pressupõe a existência de uma ordem política, ou seja, uma estrutura de poder fundada na coação e/ou no consentimento”. Logo, na sua perspectiva analítica, o desenvolvimento nacional supõe a subordinação da iniciativa privada a uma vontade política que, de uma ou de outra maneira, contemple os interesses do conjunto da coletividade. “A rigor – afirma Furtado em Pequena Introdução ao Desenvolvimento -, a idéia de desenvolvimento possui pelo menos três dimensões: a do incremento da eficácia do sistema social de produção, a da satisfação de