Peça As Inventariantes
Texto Teatral de Walter Paiva
Personagens:
Juliano (um ancião mefítico) Bárbara (mulher de Juliano) Sofia (filha de Juliano e Bárbara)
Cenário:
Sala da casa de Sofia. A linguagem cenográfica da peça deve traduzir uma atmosfera lúdica de sombria degradação.
Entra Juliano, um ancião mefítico pelas moléstias que o torturam com requintes de crueldade, movendo-se desesperadamente e com intensa fragilidade. Impossibilitado de falar, seus olhos agonizantes clamam por socorro. Em sua perseguição, entram Sofia (20 anos, aproximadamente) e Bárbara (aparentando a mesma idade de Juliano), cada qual com sua peculiar caracterização ameaçadora. Trata-se de duas mulheres sem vida, visivelmente tomadas por uma decadência surpreendente. Irradiando a ira de uma vingança nada sublime, Sofia chega a deliciar-se com o desespero e vulnerabilidade de Juliano. Bárbara, apesar de igualmente aterrorizante, consegue também mostrar algo de proteção e sofre muito em todo o desenrolar da peça – como a mãe em conflito no seu íntimo por estar dando umas palmadas necessárias no filho.
SOFIA: (Sarcástica.) Aonde vai com tanta pressa, papai?
BÁRBARA: Não corra, Juliano. Não corra mais!
SOFIA: Está desperdiçando seu tão precioso fôlego!
BÁRBARA: (Tentando abraça-lo.) Venha cá! (Juliano continua tentando escapar das duas criaturas. Após correr muito, imobiliza-se. Está alucinado de tanta dor. Fixa o olhar na platéia também com grande dificuldade.) O que está vendo, querido?
SOFIA: (Dando uma gargalhada.) Encontrou uma luz no fim do túnel? (Aproxima-se.) Aposto que é a morte vindo em sua direção... (Juliano clama por todas as suas forças para fugir, mas não consegue mover um músculo sequer. Suas energias estão esgotadas. Fatalmente, só consegue suspirar.)
BÁRBARA: (Num gesto materno, acaricia a cabeça de Juliano.) Eu sabia