Pesquisa em educação em ciências
Volume 04 / Número 2 – dezembro de 2002
Thomas Kuhn e a nova historiografia da ciência Bernardo Jefferson de Oliveira – Fae/UFMG Mauro Lúcio Leitão Condé – Fafich/UFMG Resumo: Esse artigo procura mostrar a crítica de Thomas Kuhn a algumas concepções da historiografia da ciência contemporânea que radicalizaram muitas das posições formuladas inicialmente pelo próprio Kuhn. Pretende-se ainda mostrar que um reposicionamento de Kuhn, a partir de sua crítica a seus sucessores, o aproxima mais de suas influências iniciais, em especial, de Ludwig Wittgenstein e Ludwik Fleck. Palavras-chave: historiografia da ciência, conhecimento científico, Thomas Kuhn Abstract: This article tries to show the Thomas Kuhn's critics to some conceptions of the contemporary historiography of science that became radical many of the positions formulated initially by Kuhn himself. It is still intended to show that the new orientation of Kuhn, starting from his critic to his successors, approaches him more of his initial influences, especially, Ludwig Wittgenstein and Ludwik Fleck. key-words: science historiography, scientific knowledge, Thomas Kuhn
Lewis Carroll, celebre por seu livro Alice no país das maravilhas, adorava brincar com paradoxos. No poema Caça ao turpente, ele se diverte, entre outras coisas, com os fundamentos do conhecimento. Há uma passagem bastante sugestiva sobre a idéia de que a ciência e suas descobertas não passam de meras convenções. Nela lemos que o capitão do barco que lidera a caçada Comprara amplo mapa mostrando o mar Sem o mínimo sinal de terra: A tripulação gritou vivas ao ar: “Com um mapa assim ninguém erra!” “Pra que serve o equador do Sr. Mercator, Seus trópicos , pólos, monções?” Perguntava o do sino.1 A resposta, com tino: “São meras pueris convenções! Feios feito quiabos, com ilhas e cabos,
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O capitão se chamava Bellman. Na excelente tradução de Álvaro Antunes que estamos utilizando, ele é o Campainha. 1