Personagens de Ensaio Sobre a Cegueira
O primeiro cego:
‘’[...] vê-se que grita qualquer coisa, pelos movimentos da boca percebe-se que repete uma palavra, uma não, duas, assim é realmente, consoante se vai ficar a saber quando alguém, enfim, conseguir abrir uma porta, Estou cego.’’
Mulher do primeiro cego:
‘’Sei que aí estás, ouço-te, toco-te, calculo que tenhas acendido a luz, mas eu estou cego. Ela começou a chorar, agarrou-se a ele, Não é verdade, dize-me que não é verdade. ’’
Ladrão de carros:
‘’Salu, nem valia a pena fechar o carro, daí a nada estaria de volta, e afastou-se. Ainda não tinha andado trinta passos quando cegou. ’’
Médico:
‘’[...] e de súbito sentiu medo, como se ele próprio fosse cegar no instante seguinte e já o soubesse. Susteve a respiração e esperou. Nada sucedeu. Sucedeu um minuto depois, quando juntava os livros para os arrumar na estante. Primeiro percebeu que tinha deixado de ver as mãos, depois soube que estava cego. ’’
Mulher do Médico:
‘’ Levantou o braço e disparou outro tiro. Caiu mais um bocado de estuque. E tu, disse o da pistola, não me hei-de esquecer da tua voz, Nem eu da tua cara, respondeu a mulher do médico.’’
Rapariga de óculos escuros
‘’A rapariga dos óculos escuros também foi levada a casa de seus pais por um polícia, mas o picante das circunstancias em que a cegueira, no seu caso, se declarara, uma mulher nua aos gritos num hotel, alvorotando os hóspedes, enquanto o homem que estava com ela tentava escapulir-se enfiando atabalhoadamente as calças .’’
Rapazinho estrábico
‘’Examinei ontem um rapazinho estrábico, eras tu, perguntou o médico, Era sim senhor, a resposta do rapaz saiu com um tom de despeito, de quem não gostara que se mencionasse o seu defeito físico, e tinha razão, que tais defeitos, estes e outros, só por deles se falar, passam logo de mal perceptíveis a mais do que evidentes. ’’
Velho da venda preta
‘’No consultório, o último paciente a ser atendido foi o velho de bom génio, aquele que dissera tão boas palavras